- Os vários exemplos de "esporte da moda" que atingiram picos de popularidade quando um brasileiro estava no topo e caíram novamente no esquecimento quando deixaram de ter um brasileiro entre os melhores do mundo. Como li em um lugar, brasileiro não gosta de esporte, brasileiro gosta de vencer. E isso se expande para dois dos problemas a seguir.
- A cobrança e pressão injustificadas para medalhas olímpicas sendo que, na maioria dos casos, "planejamento" olímpico significa jogar todos os ovos no cesto de algumas galinhas dos ovos de ouro (literalmente), enquanto a formação de atletas fica pra último plano, com mais ou menos o mesmo funcionamento de uma hail mary da linha de 50 jardas ou da pescaria de um modo geral: tacam uma isca na água e rezam para que alguém morda, ou pegue a bola, ou que um talento geracional apareça e ganhe mundiais e ouros olímpicos partindo de um ginásio sem eletricidade e água potável encravado no meio de alguma favela. Estratégia? Isso é uma piada perto do torcedor brasileiro médio que acha que qualquer esporte fora o futebol tem a mesma profundidade estratégica e tática que tomar uma dose de cachaça. Parte da culpa disso está na mídia, que tem duzentos programas pra falar TODO DIA de resultados de futebol (sério, o que os caras têm a falar, por exemplo, no meio de Dezembro? Vão ficar enchendo linguiça? Duas semanas de retrospectiva?) e de táticas e três ou quatro ou cinco programas pra analisar (mal) e dissecar (porcamente) o mesmo jogo, cinco dias por semana, doze meses por ano, enquanto a análise estratégica de qualquer outro esporte é relegada a blogs, canais e sites especializados (assim como a análise tática de qualidade dentro do futebol), com conceitos básicos sendo explicados a cada quatro anos na transmissão de uma partida olímpica. É como querer que uma criança de oito anos passe com 10 nas provas de Cálculo da Fatec São Caetano tendo apenas os conhecimentos matemáticos ensinados na primeira série.
- A resistência à mudança, seja qual for: Até 1960 o italiano comum só se importava com automobilismo, ciclismo e futebol. Vieram as Olimpíadas de Roma e hoje qualquer desempenho abaixo de 25 medalhas já é considerado uma catástrofe. Já se passou um ano desde Rio 2016, e ainda somos o país do esporte-é-futebol-o-resto-é-educação-física. E a perspectiva de mudança? Com a mídia tradicional (mídia escrita/televisão/grandes portais de internet)? Zero.
- Se tratando de esportes, o brasileiro é um Nostalgia Critic invertido e distorcido. Só a Ferrari/Mercedes/Red Bull/insira equipe dominante aqui vence? Diga que sente saudade da época de Senna (aquele mesmo que foi campeão mundial pela primeira vez numa equipe que ganhou 15 de 16 corridas no ano) e ignore a tendência histórica de que a maioria das temporadas de F1 teve uma equipe vencendo mais da metade das corridas do ano. O importante é reclamar que hoje está muito pasteurizado/politicamente correto/sem graça, os pilotos eram melhores antigamente (acham mesmo que um Pedro Chaves ou um Claudio Langes ou insira um perfil do GP Rejects aqui é melhor que Kvyat? Palmer - tanto Jonathan quanto Jolyon? Ericsson?) e bom mesmo era na década de 80 (para cada Mônaco 82 ou San Marino 85, a década de 80 tinha umas três ou quatro corridas em que o líder pulava na frente e nunca mais era visto novamente).
Sem falar no maior de todos os cânceres: o torcedor de futebol de internet:
- Este ser que se transforma em um grego em 5 de Julho de 2004 quando a seleção vence três jogos seguidos, para no final acabar como um francês em 11 de Julho de 2016 quando a seleção é eliminada (vide 98 e 2006, onde só faltavam dizer que o Brasil só precisava chegar com o avião que o presidente iria entregar a taça no aeroporto com um mês pra Copa começar. Curiosamente, a França tirou o Brasil das duas Copas. Mesmo destino em 2018? Parece que sim).
- Por falar em eliminação, o brasileiro jamais aceita que sim, seu time pode ser eliminado de forma limpa, justa e merecida. Caiu nas quartas pra campeã mundial? Invente uma história da água batizada (ainda que semi confirmada pelo Maradona, é uma história esdrúxula). Caiu pra anfitriã na final com o jogo que definiu a carreira de um dos ícones das décadas de 90-2000? Invente que a final foi vendida.
- Ignorância em relação aos reais problemas da seleção: A concentração em 2006 era um puteiro? Sem problema, o torcedor acha que a seleção é predestinada a vencer apenas e somente com a soma do talento individual de algumas partes. O principal jogador do time se machucou/sofreu um piripaque na véspera do jogo decisivo? Assista o New England Patriots virar o Cleveland Browns apenas com a ausência de um jogador (vide 98 e 2014).
- Sebastianismo/Messianismo: Coloque todos os ovos no cesto da sua galinha dos ovos de ouro, vai dar certo sim. Como se seu similar de LeBron James fosse esconder a fraqueza psicológica da maioria dos seus jogadores (as vedetes são extremamente mimadas e mentalmente frágeis como uma folha de papel higiênico) e carregar o time nas costas em direção ao paraíso.
- A eterna caça às bruxas resultada de qualquer eliminação em Copa do Mundo. O técnico sempre é o maior de todos os culpados e acaba sendo queimado e decapitado (lembrando: o plano de longo prazo do brasileiro é de no máximo seis meses). Muitas vezes a culpa também cai em cima de um jogador específico (vide 2006 e 2010), e às vezes em cima de um jogador que nem foi mal (sério que teve gente que colocou Gilberto Silva como um dos bodes expiatórios de 2010???). Estranhamente, a culpa nunca cai sobre um dos jogadores de ataque/armação, vide Zico, que perdeu um pênalti de forma ridícula em 86, fato que é simplesmente ignorado, como uma montagem de fotografia soviética desaparece com uma vítima dos expurgos de Stalin.
- "O futebol brasileiro está morto, no passado tudo era melhor": Tempo em que o campeonato brasileiro mudava de regulamento todo ano, era quase impossível conseguir uma camisa de time original e os dirigentes dos clubes, em sua absoluta maioria, eram déspotas absolutistas com poderes de dar inveja a um líder norte-coreano. Tanto que muitos até hoje estão por aqui.
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